
Qual dos períodos da História da Arte Brasileira você prefere trabalhar em sua instituição? Por quê? Acesse o link: http://www.pinacoteca.org.br/museuparatodos/
Este relato colaborativo é resultado da formação realizada pela Pinacoteca de São Paulo destinada a educadores da Rede Municipal de São Bernardo do Campo.
É um registro sobre o fazer que ultrapassa a análise de feio ou bonito, bem ou mal feito, para uma análise dos elementos que constituem a Arte.

O que faz destas apresentações obras de Arte?
A letra, a melodia, a técnica vocal ou a performance corporal?
O que é mais significativo nesta obra?
Aguardem nossa próxima postagem...
Este quadro é considerado uma obra de ruptura, pois quebra com os padrões da figura feminina lançando um olhar diferenciado para esta mulher que tem desejos e vontades que não eram considerados no século XIX. Os indícios para esta conclusão, estão nos seguintes elementos; a mulher foi retratada sozinha com uma postura mais desalinhada, os cabelos soltos fazem referência a liberdade e luxuria com uma apelo sensual.
Primeiro quadrante: a paisagem natural pode remeter ao paraíso universo feminino, ligado as questões da natureza, a casa de construção nobre representa status e posição social elevada; A cabeça da mulher representa inteligência evidenciada pela luminosidade no rosto e no topo da cabeça. Ela tem um livro em mãos, ícone de cultura= poder, poucas mulheres liam nesta época.
Segundo quadrante: mostra a terra símbolo de estatus, a propriedade com grande área de céu e terra, mostrando a ostentação e poder (domínio sobre a terra), que pode pertencer a esta mulher.
Terceiro quadrante: mostra a imagem do corpo da mulher sentada em uma cadeira de forma desalinhada com os cabelos soltos dando o sentido de liberdade;
Quarto quadrante: Apesar do corpo da mulher estar inteiro na cena a direita do quadro, seu pé está avançando o último quadrante da esquerda que da indícios de uma mulher independente, extrapolando o padrão de comportamento feminino da época. Normalmente o quadrante da direita representava o universo feminino e o da esquerda o universo masculino; A cadeira pode indicar a presença de outra pessoa.
Existe uma luz em perpendicular que entra pelo primeiro quadrante passa pelo chapéu, brincos, boca, lágrima, documento, livro e termina no baú entreaberto que conduz nosso olhar na obra.
Na estética das pinturas do Sec XIX, o campo visual era dividido em duas partes: uma superior e outra inferior, que se subdividem em direita e esquerda, compondo quatro quadrantes, sendo os superiores representantes do discurso sagrado (maior valor) e os inferiores do discurso do profano (menor valor) lidos segundo a ordem decrescente de gradação de valor, da esquerda para a direita, de cima para baixo.
Primeiro quadrante: Luz perpendicular fria, cores frias,imagem de chapéu masculino representando a superioridade masculina e a presença de uma ausência.
Segundo quadrante: Imagem de uma mulher apoiada na janela, posição do corpo torcida dando a idéia de fragilidade. Existem indícios de aliança no dedo médio da mão esquerda, a mulher veste roupas e bijuterias na cor preta sendo um símbolo de tristeza ou viuvez. Demonstra uma abatimento na face com lágrima no olhar, cabelo desalinhado, dando a idéia de que se esqueceu dela mesma, idéia de desespero com a boca coberta parece conter um sentimento sufocado. Carta ou documento na mão remetendo a lembranças.
Quarto quadrante: O baú entreaberto parece guardar roupas dando a idéia de algo não concluído. Livro sobre o baú coberto por um xale branco, o símbolo livro indica o poder de leitura do universo masculino.Alguns pontos observados:
Ver é diferente de olhar.
Ver: Maneira ingênua de captar com os olhos, qualquer pessoa que possui a capacidade de enxergar é capaz de ver, sem se ater aos detalhes, de forma mecânica.
Olhar é uma maneira apurada de enxergar detalhes e fazer relações de sentido considerando os aspectos formais (cor, luz, forma, gestalt, disposição e contexto) que constitui o campo visual.
Apropriação de um vocabulário específico para tratar das questões da ordem (RsRsRsRs) dos conceitos artísticos.
A compreensão de uma estrutura de um pensamento com características do Séc XIX, que ficou muito forte e presente até a atualidade, considerando que o Brasil foi colônia e herdou uma cultura imposta por nossos colonizadores, pulando da fase da “barbárie” para a estrutura neoclássica. Na tentativa de amenizar as lacunas que ficaram neste processo “aceitamos” esta estrutura como base de pensamento trazendo uma certa “segurança” para a elite cultural.
O pensamento cartesiano colocou uma ordem de estrutura das coisas que dava uma falsa sensação de perfeição, e esta estrutura ficou firmada como adequada até a atualidade.
Com estes indicadores percebemos que hoje esta estrutura está presente em nosso cotidiano, porém nosso olhar ingênuo não se dava conta disto.
Exemplos:
Autoria: Derany, Grace e Neylimarcia.
A arte tem uma importância que extrapola seu valor material enquanto objeto de produção humana, pois entendida enquanto patrimônio cultural permite a reflexão sobre questões que estão implícitas; O objeto artístico é impregnado de códigos e elementos de significação intencionalmente postos pelo artista. Por esta razão podemos justificar historicamente o distanciamento proposital do individuo comum dos códigos da arte, politicamente impostos à educação, pois a arte representa a história de um povo, a visão de diferentes ângulos que normalmente não são contados na história narrativa, o artista em determinados momentos utiliza a arte coma forma de denuncia, traz um contexto impregnado de sensações e emoções, inserindo na história personagens excluídos com uma grande carga de humanidade.